Associação Rádio Arremesso
Estávamos em meados do ano de 2002, em mais uma das muitas noites perdidas frente a estas maquinas infernais que são os computadores.
Após buscas infindáveis na Internet sobre uma paixão que sempre animou a minha vida, a Rádio, encontrei por fim um site inglês que explicava como criar uma estação de rádio através da Internet. – Bingo!, pensei eu, porque não tentar para ver se funciona ?!..
Depois de carregados os programas que permitem a transformação e o envio do som através da rede mundial, começava então uma das muitas séries de testes para compreender como todo este processo funcionava.
Inicialmente contei com o apoio e a preciosa ajuda de um colega de noites perdidas na net, tal como eu, para que me pudesse dar o retorno (feedback) do que se ia passando. Francisco Monteiro acabou por ser o meu primeiro ouvinte e o informador do som que era então transmitido diretamente do computador instalado em minha casa.
Tal como é sabido, a qualidade de recepção do som varia de computador para computador, de acordo com outros factores, como sendo a qualidade e a configuração desse mesmo computador. Perante tal facto, lancei o apelo a vários outros colegas da net, para que me fossem informando da qualidade de emissão.
Após todos os testes possíveis e imagináveis, e com um conhecimento geral já adquirido sobre todo este processo, agradeci a todos os que me tinham ajudado e dei tudo por terminado.
A vaga de reclamações dos cinco ou seis ouvintes que na época me ajudavam fizeram-se sentir desde logo e pediram-me para ir deixando passar os temas portugueses aos quais ia tendo acesso.
Como é fácil de imaginar, poder dar a possibilidade de ouvir música exclusivamente portuguesa continua a ser uma tarefa árdua e difícil, acrescentando-lhe ainda o facto de ser em direto e na Internet, mais inatingível se tornava.
O facto é que os temas existentes continuaram a passar em direto, a pedido dos ouvintes pioneiros deste projeto, aos quais se foram juntando outros temas e outros ouvintes, nascendo assim a Rádio experimental.
Vítima de uma obstinação pessoal e do “sucesso”, comecei então a pensar que era realmente possível fazer algo mais, aproveitando assim todos os meios técnicos que tinha à disposição.
Apesar de tudo, havia um grande obstáculo antes mesmo de pôr em prática este projeto. O que poderia marcar a diferença entre esta rádio e as milhares de rádios já existentes na net ?
Para poder responder à procura real de só emitir em português, surgiu a fabulosa ideia das emissões serem só em português, desde a locução até à música, nascendo assim o slogan : “100% em Português”.
Tendo já em mente um projeto simpático pronto a funcionar todas as noites das 20h00 às 24h00, faltava ainda contornar o problema do nome.
Mas confesso que nem por isso foi um grande quebra-cabeças. Apoiando-me na minha experiência radiofónica de jovem adolescente, rapidamente me vieram à memória velhas recordações sempre vivas e presentes da rádio local onde me iniciei e que tinha cessado funções nos anos 90, na vila da Baixa da Banheira.
Raramente utilizada na nossa língua portuguesa, ARREMESSO foi a palavra que trouxe até vós esta rádio 100% portuguesa a transmitir através da Internet.
Tendo em minha posse os meios técnicos necessários para o efeito, um nome para dar imagem à rádio e ouvintes cada vez em maior número devido à publicidade do “passa a palavra”, novas exigências e novos desafios foram surgindo obrigando-me a encontrar uma base sólida para colmatar determinadas lacunas às quais, sozinho, não poderia fazer face !
Um ano passado, e em pleno mês de Fevereiro, decidi reunir à volta de uma mesa de um café, todos aqueles que faziam parte do auditório da já então Rádio Arremesso, para opinarmos sobre o projeto.
A opinião foi unânime e o projeto que começou por ser uma simples brincadeira entre amigos, começava a dar os seus frutos. O projeto e a vontade eram ambiciosas e altamente surpreendentes. O grupo dos dez partia assim para uma aventura até ao limite com o objectivo de poder proporcionar às Comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo momentos inesquecíveis de boa música portuguesa.
E foi assim que no dia 15 de Fevereiro de 2004 foi criada a Associação Rádio Arremesso sem fins lucrativos, e cujos estatutos foram aprovados nessa que viria a ser a primeira assembleia geral.
Consequentemente, surge assim também a primeira Direcção desta mesma Associação, com Joaquim Bento, enquanto Presidente, João Lopes, Vice-Presidente, Hermínio Mendes como secretário e Carlos Albino como Tesoureiro. O Conselho Fiscal era liderado por José Oliveira.
Até aqui estava tudo a desenrolar-se da melhor maneira, no entanto havia um pequeno detalhe ainda por resolver, pois a rádio funcionava diretamente da minha casa, e era inevitável encontrar a curto prazo um local para instalar a Rádio Arremesso. Ora cá estava mais uma prioridade, e talvez a primeira, desta Associação que acabara de nascer.
Tenho aqui a sublinhar que muito foi feito para encontrar instalações para a ARREMESSO, no entanto, e infelizmente, as portas das associações aqui em Genebra iam-se fechando umas atrás das outras. Perdoem-me a franqueza, mas houve inclusivamente uma resposta (“Desculpem mas não nos podemos lançar em brincadeiras dessas”) que apesar de desmotivante, funcionou contrariamente ao que se poderia pensar, como motor de arranque para buscas incessantes e factor, diria eu, decisivo para nos agarrarmos com todas as nossas forças ao que pretendíamos para a Arremesso.
Encontrar uma porta que se abrisse de par em par foi, sem qualquer sombra de dúvida, o maior desafio para todos aqueles que acreditavam e continuam a acreditar neste projeto. E foi através do nosso secretário, o Sr.Hermínio Mendes, que o Clube Lusitano de Gland nos acolheu de forma hospitaleira, através da pessoa do seu Presidente, o Sr. Aníbal Amador. Em troca de uma renda mensal, foi-nos facultada uma parte do pequeno escritório do Clube Lusitano de Gland para nos podermos acomodar, e assim instalar o material necessário à transmissão da Rádio Arremesso.
Surgem assim os estúdios oficiais da Rádio Arremesso, com a emissão inaugural a ir para o ar no dia 9 de Abril do ano de 2004, com hora marcada para as 10h00 locais, e pela voz do então Sr. Presidente, Joaquim Bento.
Estava lançada oficialmente a primeira rádio 100% em português na Internet.
Fácil foi perceber que estávamos completamente dependentes dos horários de abertura do Clube Lusitano de Gland (sextas-feiras, sábados e domingos), o que causava grandes transtornos para quem fazia emissões em direto e para projetos futuros.
E uma vez mais tivemos de colocar as mãos à obra e procurar novas instalações onde pudéssemos existir sem restrições de horários e sem dependência de quem quer que fosse a esse respeito.
Foi através do nosso sócio-fundador, o Sr. Lionel Albino, que a Direcção da Associação Rádio Arremesso entrou em negociações com o Clube FC Acácias Ville em Genebra, para que este nos pudesse alugar o local que lhes servia de depósito de material. Tendo sido aceite a proposta, rapidamente se efetuaram os trabalhos de transferência de Gland para Genebra.
E foi assim que no dia 13 de Julho do ano de 2004 as emissões da Rádio Arremesso começaram a ser emitidas, pela primeira vez, dos nossos próprios estúdios, situados numa cave da Rua Patru.
Contrariamente ao que era previsto, o auditório da Arremesso (como eu lhe chamo !), está a crescer de dia para dia. A aceitação tem sido da melhor e novos desafios se levantam. Novos horizontes e novos voos que só serão possíveis de realizar graças ao empenho de todos aqueles que direta e indiretamente se empenham voluntariamente e dão o seu contributo para podermos assim levar a Rádio Arremesso a todos vós.
Esperamos assim que a nossa boa vontade e todo este nosso esforço possam contribuir dia a dia para melhor servir as Comunidades Portuguesas que, tal como nós, se encontram espalhadas pelos 5 cantos do Mundo.
O nosso maior desejo é que a Associação Rádio Arremesso seja de facto um meio de transmissão da nossa cultura, e que as nossas vozes de portugueses conquistadores possam enriquecer-vos tanto como nos têm enriquecido a cada um de nós.
Joao Carlos Lopes